21 de maio de 2014

Dieta do DNA: saiba se o método é real e se pode funcionar para você

Quem está na batalha pelo emagrecimento há algum tempo já deve ter aprendido a desconfiar de dietas que prometem “o dobro da perda de peso” e garantem “resultados rápidos”. Geralmente os primeiros meses correm às mil maravilhas e depois os quilos perdidos retornam, multiplicando a frustração. A última representante dessa linha é a 'Dieta do DNA', que promete indicar, após um exame de mapeamento genético - feito a partir da saliva, realizado nos EUA, e cujo resultado sai em 40 dias - quais alimentos e exercícios são os mais adequados para cada um, de forma personalizada. 

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A nutricionista clínica e esportiva Fernanda Dias concorda que existe uma conexão real e de grande potencial entre o DNA humano e a nutrição. Mas não é uma dieta milagrosa, a partir de um exame. “Uma coisa é realizar o mapeamento genético, que realmente pode trazer informações riquíssimas sobre a saúde de cada indivíduo. Mas a outra coisa é a forma como cada gene vai se expressar dentro do nosso organismo ao longo da vida”.


Para ela, é muito prematuro dizer que já existe uma dieta do DNA personalizada para cada um. Apenas 0,1% do mapeamento de uma pessoa será diferente em relação ao da outra. Os outros 99,9% são iguais para todos os seres humanos. E é nesse 0,1% que se concentram os esforços para uma atuação individualizada não só da nutrição, como de todas as ciências da saúde, relata a profissional. “Será possível, no futuro, até desenvolver um medicamento específico para cada indivíduo. O alcance vai muito além da dieta e da nutrição”, aponta.

Segundo a especialista, ainda não houve nem tempo hábil para um detalhamento completo da expressão genômica humana. “Ainda estamos no início dos estudos sobre a intervenção da dieta nos genes de cada indivíduo. O Projeto Genoma Humano alcançou a marca de 25 mil genes, que correspondem a 400 mil proteínas. Mas ele mostra, por enquanto, apenas a matriz do DNA, e não seu comportamento futuro. É cedo para dizer o que você pode ou não comer, baseado em seu perfil genético”, pondera a nutricionista.

O que existe de real na dieta do DNA nada tem a ver com um pacote pronto vendido por uma empresa. “Há compostos nutricionais bioativos, os CBAs, que já demonstraram poder para interferir na forma como um gene se comporta ao longos dos anos, prevenindo e tratando doenças crônicas, como hipertensão, aterosclerose, osteoporose e diabetes. Isso representa um potencial enorme inclusive para a saúde pública, porque essas enfermidades são uma das principais causas de morte na população mundial”, pontua Fernanda.

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Pode ajudar, mas não é indispensável

Fernanda considera que o 'exame da moda' pode até ajudar na definição de um cardápio, considerando mais as possibilidades de uma vida saudável do que necessariamente o emagrecimento. “Vamos pegar como exemplo o gene PPAR-y. Na sua expressão, ele pode privilegiar o acúmulo de colesterol e favorecer cardiopatias. A pessoa que identificar essa característica no mapeamento pode, portanto, evitar alimentos ricos em gordura. Lembrando que seria só evitar; e não retirar completamente das refeições”, enumera.

A nutricionista alerta, no entanto, para o fato de não haver necessidade de pagar um exame caro e comprar um pacote para aplicar princípios da nutrigenômica. E muito menos tomar medidas radicais. “Fatores externos podem alterar a atividade do gene ao longo da vida. Se uma pessoa tem risco maior de desenvolver a diabetes, podemos pensar em um cardápio para minimizá-lo. A não ser que o problema em questão seja intolerância à lactose, por exemplo, que determina ações drásticas, nunca devemos atuar como se a pessoa já tivesse a doença, eliminando totalmente alimentos da rotina”, exemplifica a nutricionista.

Se há condições financeiras, Fernanda não é contra a realização do exame, mas aposta nele como ferramenta acessória. “Com mapeamento ou não, o que devemos fazer é manter o padrão de qualidade de vida com um bom cardápio e rotina de atividades físicas, balanceamento de nutrientes e boas noites de sono”. Isso vale, é claro, para quem não tem qualquer gene indicativo de doenças. “E mesmo para quem tem, isso não é uma sentença, ou seja, ter o gene não garante que você vá desenvolver qualquer distúrbio. É apenas uma probabilidade”, reforça a nutricionista.

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De acordo com a especialista, não existe 'a corrida do ouro do mapeamento genético'. “Por meio das consultas tradicionais, desde que realizadas com atenção e cuidado, é possível trabalhar a utilização de compostos bioativos. Com o mapeamento normal de risco e os exames bioquímicos regulares, já temos um cenário real de como funciona o corpo de cada um, podemos montar um plano de emagrecimento sudável e prevenir doenças. O sobrepeso e a obesidade são vinculados a várias razões, e não só à genética”, conclui a profissional.

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